As representações mais populares, em linguagem, sobre o tenebroso
período do regime militar entre 1964 e 1985 vêm geralmente da poesia
cantada. São em canções de Chico Buarque, como O que será (à flor da terra), e de Geraldo Vandré, como Para não dizer que não falei de flores, que pensamos quando discutimos a resistência à ditadura.
Sobre a experiência do exílio, há as canções de Caetano Veloso compostas na Inglaterra. A Canção da América,
de Milton Nascimento, é uma trilha sonora comum para os relatos da
anistia de 1979. Com a força dos meios de comunicação mudando para a
televisão nos anos 60, esses artistas da linguagem podiam alcançar a
população brasileira de uma forma que era muito mais difícil para
romancistas e poetas, que dependiam da publicação por editoras e sua
distribuição.
Na literatura, foi a contrapelo e muitas vezes escritos e
publicados no exílio que alguns dos relatos mais fortes sobre o período
chegaram, como é o caso do romance Zero (1974), de Ignácio Loyola Brandão, publicado originalmente na Itália, e o Poema Sujo
(1976), de Ferreira Gullar, que primeiro circulou no Brasil por meio de
uma gravação do poeta numa fita-cassete, feita por Vinícius de Moraes
em Buenos Aires, onde Gullar estava exilado.
A opressão do regime pode ainda ser sentida no livro de estreia do poeta baiano Waly Salomão, Me segura qu'eu vou dar um troço (1972), e no livro de Fernando Gabeira, O Que É Isso, Companheiro?
(1979), que se tornou bastante conhecido após a filmagem de Bruno
Barreto, em 1997, transformando-se num dos relatos mais famosos sobre o
período da ditadura militar.
No entanto, a atitude dos brasileiros em relação à ditadura e a recusa
do governo em abrir seus arquivos e discutir o período têm levado a um
conhecimento parco da melhor literatura do período, como é o caso do
romance caleidoscópico de Ivan Ângelo, A Festa (1963/1975).
Publicado pela primeira vez em meio aos tumultuados anos de João Goulart
na presidência, o livro nos mostra um panorama da conflituosa sociedade
brasileira de então, que mais tarde se dividiria entre o apoio e a
resistência ao regime militar, como também em Quarup (1967), de Antônio Callado, no qual se desenrolam os impasses políticos entre a regime de Vargas e o dos militares de 64.
Outro escritor que lidou de forma contundente com o período foi Luiz
Fernando Emediato, que tratou da Guerrilha do Araguaia no conto Trevas no paraíso e publicaria ainda, entre outros, o conto intitulado, de forma bastante arriscada para a época, Como estrangular um general.
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