segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O Que Será (A Flor da Terra)


Cantor e compositor, Chico Buarque de Hollanda deixou a ditadura brasileira registrada em suas canções. Sempre crítico, Chico retratava as dificuldades vividas no período e teve seu trabalho censurado em vários momentos.


Música contra o regime

As representações mais populares, em linguagem, sobre o tenebroso período do regime militar entre 1964 e 1985 vêm geralmente da poesia cantada. São em canções de Chico Buarque, como O que será (à flor da terra), e de Geraldo Vandré, como Para não dizer que não falei de flores, que pensamos quando discutimos a resistência à ditadura.
Sobre a experiência do exílio, há as canções de Caetano Veloso compostas na Inglaterra. A Canção da América, de Milton Nascimento, é uma trilha sonora comum para os relatos da anistia de 1979. Com a força dos meios de comunicação mudando para a televisão nos anos 60, esses artistas da linguagem podiam alcançar a população brasileira de uma forma que era muito mais difícil para romancistas e poetas, que dependiam da publicação por editoras e sua distribuição.
O "Poema Sujo", de Ferreira Gullar, circulou primeiro por meio de uma gravação em fita cassete
Na literatura, foi a contrapelo e muitas vezes escritos e publicados no exílio que alguns dos relatos mais fortes sobre o período chegaram, como é o caso do romance Zero (1974), de Ignácio Loyola Brandão, publicado originalmente na Itália, e o Poema Sujo (1976), de Ferreira Gullar, que primeiro circulou no Brasil por meio de uma gravação do poeta numa fita-cassete, feita por Vinícius de Moraes em Buenos Aires, onde Gullar estava exilado.
A opressão do regime pode ainda ser sentida no livro de estreia do poeta baiano Waly Salomão, Me segura qu'eu vou dar um troço (1972), e no livro de Fernando Gabeira, O Que É Isso, Companheiro? (1979), que se tornou bastante conhecido após a filmagem de Bruno Barreto, em 1997, transformando-se num dos relatos mais famosos sobre o período da ditadura militar.
No entanto, a atitude dos brasileiros em relação à ditadura e a recusa do governo em abrir seus arquivos e discutir o período têm levado a um conhecimento parco da melhor literatura do período, como é o caso do romance caleidoscópico de Ivan Ângelo, A Festa (1963/1975). Publicado pela primeira vez em meio aos tumultuados anos de João Goulart na presidência, o livro nos mostra um panorama da conflituosa sociedade brasileira de então, que mais tarde se dividiria entre o apoio e a resistência ao regime militar, como também em Quarup (1967), de Antônio Callado, no qual se desenrolam os impasses políticos entre a regime de Vargas e o dos militares de 64.
Outro escritor que lidou de forma contundente com o período foi Luiz Fernando Emediato, que tratou da Guerrilha do Araguaia no conto Trevas no paraíso e publicaria ainda, entre outros, o conto intitulado, de forma bastante arriscada para a época, Como estrangular um general.

Cárcere e perseguição

O século 20 da literatura brasileira começa com um romance de acusação contra a sandice dos governos brasileiros em Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, e é num romance como Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), de Lima Barreto, que podemos entrever o que pode ter sido realmente viver sob o governo autoritário de Floriano Peixoto.
Jorge Amado foi obrigado a exilar-se na década de 40, após o golpe militar de 1930, que depôs o presidente Washington Luís e levou Getúlio Vargas ao poder. Foi das prisões da polícia política de Vargas que emergiu um de nossos maiores documentos políticos e literários, os dois volumes das Memórias do Cárcere (1953, póstumo), de Graciliano Ramos, que já havia representado o ambiente de opressão do regime no romance Angústia (1936), publicado enquanto o autor estava preso.
Das mesmas prisões de Vargas surgiria o escritor Dyonélio Machado, com seus romances Os Ratos (1935) e O Louco do Cati (1942). E sempre será possível sentir, ao menos em linguagem, a opressão do Estado Novo em poemas de Carlos Drummond de Andrade, especialmente em seus livros Sentimento do Mundo (1942) e A Rosa do Povo (1945).

A literatura brasileira sob regimes autoritários

Do governo Floriano Peixoto ao regime militar iniciado em 1964, escritores brasileiros espelharam, sob riscos de prisão, tortura e morte, os impasses do país!
Se a história mantém em nossa memória o registro de regimes autoritários em suas datas e listas de nomes, é na literatura que muitas vezes sobrevive o aspecto humano e pessoal das tragédias que esses governos desencadeiam.
Num país como o Brasil, que viveu sua vida política no século 20 sob o comando e constante ataque e intervenção de militares, e onde a democracia era a exceção, não a regra, é através dos romances e poemas de homens e mulheres que se opuseram a esses regimes que hoje podemos abordar o cotidiano de medo daqueles tempos.
Muitas vezes distantes no tempo para as gerações mais novas, a história tende a tornar abstratos os sofrimentos reais – físicos e emocionais – dos que estiveram sob suas torturas, tanto físicas como emocionais.
Na sequência de intervenções militares que destituíram governos eleitos para instituir longos regimes de tortura e perseguição, a literatura brasileira foi se formando com constantes intervenções da parte de seus escritores no desenrolar sangrento dos acontecimentos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Geraldo Vandré, conhecido por ser um dos nomes mais célebres da MPB na época da ditadura e atualmente.




Vandré iniciou carreira musical nos anos 60, tornando-se famoso pelas suas músicas que se tornaram ícones da oposição ao regime militar de 1964, como "Porta Estandarte", "Arueira", "Pra não dizer que não falei das flores", entre outras. Canções legitimamente populares.

O sucesso maior veio com "Disparada", vencedora do Festival da Canção da TV Record em 1966, junto com "A Banda", de Chico Buarque. No livro "A era dos Festivais - Uma Parábola", de 2003, Zuza Homem de Mello revela que Chico Buarque, ao saber que sua música havia ganhado, não concordou com o resultado, pois considerava "Disparada" melhor e não aceitaria o prêmio. A situação foi resolvida quando Chico foi informado que ele e Geraldo Vandré dividiriam o prêmio.

Em 2014, Geraldo Vandré voltou a subir ao palco depois de 40 anos com a cantora Joan Baez, que em 1981 foi proibida de cantar no Brasil pela Ditadura Militar. Segundo reportagem do jornal Estadão foi o próprio Vandré quem tomou a iniciativa de fazer contato com a cantora por intermédio de um amigo em comum com a proposta de gravar um disco em espanhol. Vandré e Baez se encontraram pela primeira vez no domingo, 23 de março, poucas horas antes do show da também ativista dos direitos humanos. Baez insistiu para que Vandré cantasse, mas este não cedeu: “Eu vou convidar para subir ao palco um mito. Ele não gosta disso, prefere ser somente um homem. Ele virá aqui, mas não vai cantar, vai ficar do meu lado”, disse Joan Baez.

Principais atos de resistência



1.    O atentado no Aeroporto Internacional dos Guararapes, em Recife, em 25 de julho de 1966, visando atingir o candidato a presidente Costa e Silva. Foram mortos o jornalista Edson Regis de Carvalho e o almirante Nelson Gomes Fernandes e mais 10 feridos graves.
2.    No dia 26 de junho de 1968, cerca de cem mil pessoas ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro e realizaram o mais importante protesto contra a ditadura militar até então.
3.    Em 26 de junho de 1968, é atacado a bombas, o Quartel General do II Exército, em São Paulo, morre o soldado Mário Kozel Filho.
4.    O Capitão do Exército dos EUA enviado ao Brasil para ensinar "técnicas de interrogatório" aos órgãos de repressão, Charles Rodney Chandler, é metralhado em seu carro, no dia 12 de outubro de 1968.
5.    Em 24 de janeiro de 1969, é atacado e assaltado o quartel do 4º RI, em Quitaúna São Paulo, com o roubo de grande quantidade de armas e munições, com intuito de fortalecer os armamentos dos guerrilheiros.
6.    No dia 4 de setembro de 1969, militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), capturaram o embaixador dos Estados Unidos, com intuito de trocá-lo por presos políticos e estudantes que corriam risco de morte.
7.    No dia 18 de julho de 1969, guerrilheiros brasileiros roubam o famoso "cofre do Adhemar". De acordo com os revolucionários, esse dinheiro deveria ser empregado na luta contra a ditadura, pois era fruto dos atos de corrupção do ex-governador paulista Adhemar de Barros, conhecido pelo slogan "rouba, mas faz".
8.    Em 11 de março de 1970, revolucionários brasileiros raptaram o cônsul japonês, Nobuo Okushi, com a intenção de libertar presos políticos.
9.    Na noite de 8 de maio de 1970, após descobrirem que o tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo Alberto Mendes Júnior havia se infiltrado e delatado a VPR, o mesmo foi sequestrado por guerrilheiros e executado a golpes de coronhadas no rosto pelo desertor do exército Carlos Lamarca.



segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Vamos começar falando um pouco sobre a Ditadura no Brasil


Para quem não sabe, a Ditadura foi um período de Regime Militar ocorrido no Brasil.
O regime militar no Brasil foi instaurado em 1 de abril de 1964 e durou até 15 de março de 1985. De caráter autoritário e nacionalista, teve início com o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, o então presidente democraticamente eleito, e terminou quando José Sarney assumiu a presidência, dando início ao período conhecido como Nova República.
Apesar das promessas iniciais de uma intervenção breve, a ditadura militar durou 21 anos. Além disso, o novo governo pôs em prática vários Atos Institucionais, culminando com o AI-5 (Ato Institucional Nº 5) de 1968, que vigorou até 1978.
A Constituição de 1946 foi substituída pela Constituição de 1967 e, ao mesmo tempo, o Congresso Nacional foi dissolvido, liberdades civis foram suprimidas e foi criado um código de processo penal militar que permitia que o Exército brasileiro e a Polícia Militar do Brasil pudessem prender e encarcerar pessoas consideradas suspeitas, além de impossibilitar qualquer revisão judicial.